Foto: Alessandro Dias. Casamento da Aline & Arthur
“Essa porra de Muralha da China é só isso aqui, esse bando de pedra? Já ví tudo, quero voltar pro hotel” … foi o que disse meu querido amigo & cinegrafista genial, Pérsio Cavalcanti. E caiu a ficha do sonho que estávamos vivendo em 2008. A viagem divisora de águas em minha vida, quando pensei “caraca, essa parada de se fazer fotografia é muito lôca”. Estávamos em Beijing para registrar os Jogos Paralímpicos daquele ano. Mas não escolhi ser fotógrafo. Quando criança queria ser detetive ou motorista de caminhão de lixo. A fotografia me encontrou quando servi o Exército. Não tinha ideia de algum dia me envolver nessa área. Num universo de 400 pessoas fui o que chutou que ASA se referia a valor de sensibilidade de filme quando perguntado pelo capitão da nossa companhia. E, após o treinamento básico de lama na cara e noites acampadas, segui para o setor de comunicação daquela organização militar. Havia uma vaga aberta para fotógrafo.
O que antes era um emprego em que procurei meu sustento transformou-se em um deslumbramento. Poderia trabalhar de graça, apenas pelo espaço de estar diante de coisas que jamais tive ideia que presenciaria.
“As pessoas tem diários on-line, contam suas vidas através de imagens” Kazuo Okubo.
Rá. Foi difícil entrar pra essa profissão. Saí do exército para trabalhar pro Jorge Campos. Foi o momento de fazer merdas I N C R Í V E I S. Tomei broncas É P I C A S. O “Seu” Jorge perseguia avidamente todas as novidades da então recentíssima e nebulosa fotografia digital. A revolução estava começando, o mundo analógico em agonia - embora se risse dos míseros 6 megapixels de nossas então "poderosas” câmeras contra os 36 da película de 35mm. O salto para questões binárias vinha cheio de dúvidas e medos. Como tudo que nos é desconhecido.
O Luis Carlos Xavier, meu outro chefe, foi quem me deu a oportunidade de empunhar uma câmera. Foi o início da aventura que me transformou em quem sou hoje.
Tenho um encantamento mágico pelo ofício fotográfico. É o nicho mais democrático que conheço: negros, índios ou quaisquer etnias podem ser fotógrafos. Mulheres ou as diversas formas de sexualidade podem exercer a profissão sem quaisquer preconceitos. Pessoas com deficiências, inclusive cegos, podem se tornar fotógrafos. A difusão de informação e a popularização dos equipamentos fez com que qualquer um tivesse acesso a uma câmera. Seja em celular ou uma semi-profissional de qualidade mirabolante ( custo X benefício excelente ). Existem todos os mercados possíveis. Desde books a 80 reais com entrega na hora a casamentos monumentais em Roma com o fotógrafo feito paparazzi particular.
“A fotografia é a chave para todas as portas do mundo” - Emilliano Capozoli.
Conheci de forma profunda nosso Judiciário pois vivi lá dentro, pude registrar a liturgia da justiça. Amadureci minha visão de esquerda e direita quando estive no Legislativo. Percebi que entre o vermelho e o azul existem escalas quase infinitas. Através do Executivo pude viajar pelo país e conferir a grandeza continental do nosso Brasil. Ví nossa terra produzindo tudo, sustentando tudo. Agronegócio, hortifrutigranjeiros, cana de açúcar e nossas estradas na vazão de tudo isso, nossos portos carregados de riquezas a exportar pro mundo inteiro. Estive lá encarregado de levar a outros olhos o que contemplei.
É de tirar o fôlego.
E, além desses assuntos, tive chance de fazer uma fotografia muito especial que é a de esportes. Conheci os paralímpicos que - naquele instante - estavam a deixar de ser pessoas em processo de inclusão social para serem vistos como atletas de alto fim a carregar o país nas costas em busca de ouro, prata e bronze.
Hoje fotografo nossos atletas olímpicos. É fascinante.
Ainda me emociono com tudo o que aparece pela minha frente. Seja a luz do final do dia com seu toque de Midas, transformando paisagens em ouro até a união entre duas pessoas que acreditam no amor que tem um pelo outro.
E continuo assim, na expectativa de onde a Fotografia - essa garota louca e imprevisível, que me seduz todos os dias - vai me levar.
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