sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Registro Profissional


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Upload feito originalmente por Saulo Cruz
Hoje foi o dia que tirei meu registro de repórter fotográfico. Senti a mesma esperança como da vez que comprei minha segunda câmera na Feira do Paraguai, aqui em Brasília. Uma D200, da Nikon.

A emoção é um misto de fé nos próximos dias com o horror de uma suposta irreversibilidade. Quanto mais fui me aproximando da fotografia maior foi o medo de falhar como profissional. De não conseguir me sustentar, de não conseguir pagar minhas contas através de meu sonho.

Sonho. Num distrito preocupado com concursos públicos cuja saída é trabalhar feito uma mula safada por alguns trocados, sonhar é um disparate. Uma ousadia maluca.

Trabalhei em uma empresa onde me via como uma pequena engrenagem de um motor complexo. Não fazia idéia de onde abastecia gasolina e por onde se expelia a fumaça. Um prédio sem cor, de paredes opressoramente mortas onde circulavam pessoas cansadas. Havia um profundo sentimento de culpa. Culpa perene.

Em nome do sonho me submeti a tudo aquilo. E pude voar alto. O problema era o retorno para o ninho. O tempo que precisava permanecer no solo convivendo num lugar repleto de galináceos era sufocante.

Agora a vida sorri pra mim.

Manter a cabeça erguida, olhar adiante, mesmo que profundamente imerso no abismo do futuro nulo. Isso era difícil.

Porque o fácil é manter a fé durante a bonança.

Sinto a mesma energia transformadora de quando saí de casa naquele inacreditável primeiro de abril. Ao abrir a porta do kitinete tosco que fui morar senti o caleidoscópio de infinitas possibilidades. Vivia o mito de Pandora e sua caixa.

Nesse blog tem mais textos subversivos e pessimistas do que qualquer outra coisa. Escrevo, neste momento, sob os auspícios da pérola brilhante da sorte desencadeada por anos de semeadura. Entre dentes cerrados, lágrimas seguradas e fé.

Como acredito que somos acúmulo de experiências e escolhas deliberadas, tenho a perfeita noção, apesar de tudo, de quão benigna fora minha passagem por aquele exemplo de administração lisérgico-empresarial.

E que venham os frutos. Obrigado.

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