quarta-feira, 28 de novembro de 2012

bat-affair

bat-affair by Saulo Cruz
bat-affair, a photo by Saulo Cruz on Flickr.

As Histórias Que Gostaria de Ler – Batman.

Batman saiu pela noite. Detectou um movimento estranho nas docas, carregamentos ilegais. Tudo acontecendo debaixo de suas asas malditas, em sua cidade, Gotham City!
Saltou feito morcego e espancou a todos. Diante de sua tecnologia de guerra e técnicas de combate, nenhum deles teve chance.
Ao lado dos corpos imobilizados pelas Bat-algemas, deixou um bilhete para a polícia, a explicar o que se passara alí, com seu símbolo característico ao final da mensagem. Papel timbrado.

O problema é que quem chegou primeiro ao porto foi uma equipe de jornalistas de um canal de TV.
Entrevistaram os bandidos e fizeram um retrato da realidade dos homens e jovens de Gotham City: não haviam empregos.

As indústrias Wayne, procurando reduzir despesas, aumentar lucros e estender mercados, terceirizou a manufatura de seus produtos para mãos chinesas.

Preocupados com a tributação excessiva e problemas com sindicatos, a alta diretoria tomou essa decisão enquanto o atormentado herdeiro viajava pelo mundo para resolver seus conflitos existenciais. Os custos de translado e hospedagem ficavam dia a dia mais exóticos. O jovem patrão ia do Butão para o Nepal em um piscar de olhos, suas despesas ficavam cada vez mais caras.

Quando foi ao ar, a matéria causou um choque na sociedade gothiana. As indústrias Wayne, quando não envolvidas em escândalos financeiros, era atacada por ecologistas que lutavam contra o complexo químico industrial que lançava dejetos nos rios e enegrecia o céu da cidade.

Bruce Wayne percebeu que a brincadeira de se fantasiar de morcego, manter uma série de carros, aeronaves, câmaras secretas, armas exclusivas, papéis timbrados com logomarcas de morceguinhos, sair pela noite e exibir o corpão malhado dentro de uma roupa justa massacrando malucos feito ele era cara, burra, egocêntrica e produzia um círculo vicioso de falta de oportunidades para classes baixas, tráfico de drogas, prostituição e corrupção política. Destruía uma cidade inteira para seguir sua carreira de suposto justiceiro romântico.

Botou a mão na massa. Sua luta contra a diretoria geriátrica (a maioria dos sócios era contemporâneo de seu pai assassinado) tomou bastante de seu tempo. Em poucos momentos de folga saía com um rapaz de sunga e máscara verdes para rolês no Batmóvel (era difícil largar o vício).

Quando finalmente conseguiu compor o politburo de seu interesse para as Novas Indústrias Wayne, passou a reverter as ações outrora maléficas da empresa. Investiu no social: cursos de capacitação para a juventude da periferia, restaurou bairros inteiros desprezados de Gotham. Reformou o sistema de iluminação pública: as noites não eram mais tão escuras. Em convênio com a Secretaria de Segurança, Investigação e Dissuasão da Violência de Gotham City, equipou a polícia com incríveis dispositivos pacifistas de combate ao crime: tasers, bombas inteligentes de gases, disparadores de redes paralisantes. Instaurou uma complexa rotina de artes marciais e moralizou o corpo policial através da indicação do grande especialista criminólogo James Gordon, dando-lhe o cargo de Comissário do Departamento de Polícia. Criou Centros de Acompanhamento às Vítimas de Violência e também melhorou orfanatos, tornando-os mais humanos e inclusivos de volta à sociedade.

Saiu do armário. Através de um grande baile beneficente revelou sua vida dupla de cidadão honorário e homem-morcego. Os bailes passaram a ser o grande momento da cidade, quando o mundo voltava seus olhos para Gotham City. Mais disputados que o Oscar, ocorriam concursos carnavalescos de originalidade e performance. Frequentavam suas festas o jet-set internacional de políticos, artistas, megaempresários. Seu grande rival nos concursos de fantasia era o Coringa, com quem, dizem as más línguas, tinha um affair.

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