Gosto de ler histórias em quadrinhos. Qualquer gênero. Em especial os super-heróis. Boas histórias, independente de serem brasileiras, americanas, europeias, japonesas, venusianas, o que for. Hoje tem muita coisa ruim nas bancas. Virei o leitor super chato.
“No meu tempo era melhor”.
Nem é isso.
Claro, na infância lia e ia junto. Voava, acertava bandidos, desbaratava planos de dominação mundial, ficava radioativo e parava trens com as mãos. O encantamento se dava pelos personagens, achava o máximo pensar naquele mundo onde tudo era possível.
Depois comecei a achar que o grande barato eram as histórias em sí. Seja Tio Patinhas ou Monstro do Pântano, o interessante era como as coisas aconteciam. A forma como desenrolava, os questionamentos psicológicos paralelos à trama. Percebi que um time de pessoas estava envolvido com a criação daquilo. Escritores, desenhistas, arte-finalistas, coloristas, uma galera. Com o tempo prestava mais atenção em que mãos escreviam e desenhavam. Certos nomes eram garantias de reviravoltas surpreendentes. Outros, a mesmice.
Sempre tive preferência aos personagens que fossem mais humanos. Bruce Wayne, o playboy fetichista que se veste de Batman. É um riquinho, do início ao fim. Já Tony Stark, o Homem de Ferro, tem problemas com as ações de sua empresa, já enfrentou roubo de tecnologia por espionagem industrial, enfrentou grevistas, entrou em depressão e virou alcoólatra. Clark Kent, disfarçado de jornalista, um deus na Terra, com sua Fortaleza da Solidão em contraponto à dificuldade de pagar o aluguel que o Homem Aranha, Peter Parker, fotógrafo free-lancer, tem. A Mulher Maravilha, perfeição olimpiana, talvez não tivesse nada pra conversar com Jean Grey, uma mulher bonita porém discriminada por sua condição de mutante, despertando medo e desconfiança entre os humanos. Ajax, o marciano, recebido de braços abertos pelos terráqueos, aceito como membro da Liga da Justiça, passa longe de seu colega também verde, O Hulk e sua crise de identidade explosiva com seu alter ego, o Dr. Bruce Banner.
Meu gosto ficou seletivo. Nada a ver com “na minha época era melhor”.
Um estudo de caso. Capitão América. Gosto de sua concepção. Não tenho a visão sorvetão na testa de que é o Arauto do Capitalismo, o Big Stick americano, propaganda do imperialismo ianque. É até muito divertido se tiver uma boa história amarrando tudo.
Quando criança, meu Capitão América era outro. A fase escrita pelo Mark Gruenwald. Easy Rider, percorrendo a América numa Harley Davidson, buscando conhecer o seu extensivo país, ao melhor estilo beatnik. Steve Rogers, homem fora de seu tempo, combatente da Segunda Guerra mundial, acordado num novo mundo, onde as ameaças nasciam do coração do próprio American Way Of Life, via as desigualdades sociais, se revoltava com intervenções dos EUA ao redor do mundo. Era o Capitão América do 4 de Julho, da independência, do direito à liberdade de cada povo e cada pessoa. Tinha inimigos como o Apátrida (o vilão que pregava o fim de todas as nações). Conciliador, era amigo do Guardião Vermelho (seu equivalente soviético). Chegou a perder seu uniforme e o direito de usar a “star stripes” no corpo por ir de encontro aos interesses estatais americanos. Um democrata.
Depois vieram os anos 2000, a queda das Torres Gêmeas em Manhattan. Os tempos eram outros e daí outro Capitão América nasceu. Belicoso, intolerante, super-soldado máquina de guerra, uma pessoa de destruição em massa. A roupa que era a mesma desde 1945, data de sua criação, mudou. As linhas leves e a graça infantil de suas cores foram transmutadas para uma carapaça à prova de balas, um cinto cheio de granadas de gás, bombas, facas e coldres para pistolas. Suas asinhas na máscara foram suplantadas em um elmo de guerra (admito que eram ridículas. Importantes por serem símbolos da paz) . O Capitão América dos anos 2000 é divertidíssimo. Se transformou na caricatura que os pacifistas e comunistas em geral pintavam em seus artigos sobre ideologia subliminar nos quadrinhos (como dizer que um sujeito vestido de bandeira tem alguma coisa de “subliminar”?). É o Capitão América de Bryan Hitch. Um republicano.
Se bem escritas, as duas histórias opostas, do mesmo personagem, soam sedutoras. O problema não é o ontem ou o hoje. Os quadrinhos (assim como qualquer outra mídia) precisam de pessoas que saibam contar boas histórias.
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
Super Crítica
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Escreva sua opinião. Obrigado.