Quando chega o dia da mudança dá aquele friozinho na barriga. A gente se pergunta se aquilo é necessário. Mudar por quê? Afinal, pra quê sair daqui? A zona de conforto grita, se revolta sempre que se vê ameaçada. É preciso mudar. É preciso movimento, estar em trânsito. Chegar e já estar pronto para uma nova partida. O sentimento de jamais pertencer a qualquer lugar já que o mundo é nossa casa.
Quando se mora de aluguel, as mudanças nunca são simples. Começa por procurar o imóvel, achar a imobiliária, correr atrás de fiadores. Cada caso é uma burocracia diferente. Uns querem apenas registro negativo no SPC. Outros querem comprovantes de rendimento, ano do seu carro e o ascendente do seu signo.
Uma vez acertada a nova morada é hora da faxina. De onde você vem (o que muitas vezes inclui a pintura, mais dinheirinho voando) e pra onde se vai (e se o morador anterior urinava na pia ou tinha isótopos radioativos debaixo da cama?)
Arrumar as coisas. Arranjar caixas, deixar prático de carregar e empilhar. Cuidado com os vidros! Não perca de vista a pasta importante com seus documentos e o álbum de fotos de infância que mamãe fez quando você saiu de casa.
É um momento vagaroso. Se encontra coisas supostamente perdidas, lembranças guardadas e se percebe a incrível capacidade de juntar trecos que nem se usa. Um conselho: doe. Essa atitude faz se sentir melhor, mais leve. É revigorante.
Prefiro pagar para que furem as paredes, desmontem e montem os móveis. Acertem as prateleiras. Marcenaria e engenharia nunca foram meus passatempos. Nem a Faça Fácil gostava de ler. A possibilidade de montar um armário e ficar dadaísta é enorme. Sem falar no tempo que gasto e as ferramentas que preciso pedir emprestadas.
Aí chega o caminhão (ou a kombi, ou a charrete). Você vai dormir algumas noites, talvez semanas, no meio de caixas. Se não for esperto de escrever no papelão terá de almoçar fora porque não sabe onde estão os pratos e panelas.
O último passo é pendurar os quadros mais estimados. Só depois de ajeitada a casa é que aparece o espaço perfeito para a grande foto, a pintura imortal. O desenho do seu sobrinho.
Aí é chamar a macacada pra comemorar.
sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
A Mudança
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