Peraí. Não é nenhuma alegoria da condição universal humana. Aquele homem vive de merda. Mais precisamente do acúmulo e o desentupimento de bosta. Limpa Fossa.
Poisé, camarada. Você aí sentadinho curtindo os sucessos felinos do youtube, ávido pelo próximo papel da Isis Valverde na teledramaturgia, contando os minutos pra hora do almoço. E ele lá: sugando cocô.
A casa de veraneio recebeu muita gente esse ano. O fluxo intestinal da galera fora naturalmente reforçado pelos frutos do mar e moquecas capixabas degustados ao longo das férias.
Até que uma descarga revelou o que queremos distante de nós: os dejetos transbordaram pelo ralo. A revolta do cocô. Outras criaturas do submundo do escoamento juntaram-se a essa insurreição enfezada: minhocas, baratas e escorpiões.
Aqui peço um favor: não conte pra Clarinha. Ela parou de entrar no mar por medo de águas-vivas, tubarões, lulas gigantes, arraias venenosas e orcas assassinas!! Se Clarinha souber o que saiu do ralo nunca mais tomará banho na vida!
Calma, Clarinha. Temos um salvador: o Homem da Merda!
Feito bombeiros a atender uma emergência de vida ou morte eles chegaram em seus uniformes azuis. O caminhão feito betoneira e a mangueira de sucção.
Uma surpresa: não era a fossa que havia atingido seu limite. O cano que entupiu. Precisou quebrar o cimento. Enfiaram a mangueira e, em minutos, toda a imundície foi chupada. Acabou com a prisão de ventre da casa.
O homem percebeu que eu fazia fotos a todo momento com minha câmera + uma lentezinha muito simpática, a 50mm.
Enquanto explicava os procedimentos desobstrutivos e higiênicos dos canos puxou seu Nokia de penúltima geração e falou-me de sua paixão por fotografia.
Tinha aquele aparelho porque o posterior não possuía uma câmera integrada tão boa.
Mostrou fotografias de praias e de sua família. Daí apareceu um pequeno vídeo editado, com títulos e legendas. Começa com meninos e meninas pobrezinhas correndo em volta de seu carro, rodeado de poeira, casas humildes pela estrada de terra.
Vestido como palhaço Piolho aquele homem do Limpa Fossa organizou brincadeiras, distribuiu cachorros-quentes, doces e brinquedos.
Falou de sua empreitada solidária. A disposição de levar um pouco de alegria para aquelas crianças moradoras de áreas rurais. Tão distantes do asfalto, de parques, de Barbies, de Max Steel, de shopping, sem sorvete, muitas vezes sem carinho dos pais ocupados.
Garis, catadores de lixo, funcionários de limpeza urbana em geral, essa gente que literalmente vive do esgoto da cidade são invisíveis. Tem nossa antipatia por trabalhar em coisas que ninguém se dispõe. São menos humanos, são cidadãos de segunda categoria?
Quando o lixo acumula tomando extensões épicas, quando os bueiros vomitam é que percebemos o quanto esse desprezo é idiota.
São fundamentais. São gente. Tem seus sonhos, fazem de nosso planeta um lugar melhor. Ainda bem que existem.
O Homem da Merda salvou nossas férias.
terça-feira, 8 de janeiro de 2013
O Homem Vive de Merda
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Boa!
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