quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Olhos de Águia Parte 1 – A Despedida.

Nova Iorque, 11 de abril de 1969

Papai, não quero ser igual ao senhor. Preciso sair daqui, fugir desse lugarzinho esquecido por Deus e o Diabo, onde nada acontece. Não posso me preocupar com o vencimento dos picles enquanto existem príncipes de outras galáxias andando poraí. Não posso aceitar passar os dias na lojinha atendendo caipiras comedores de salsicha enquanto as pessoas estão colocando mochilas nas costas e atravessando o país. Eu sei que o senhor contou comigo. Tomar conta do nosso mercadinho, dar uma boa vida pra mãe e sustentar a faculdade das minhas irmãs. Me desculpe. Não posso fechar os olhos enquanto uns sujeitos voam, outros amassam aço com as mãos. Desculpe pai.

O mundo pirou depois da Segunda Guerra Mundial, quando o Jet Boy, a bordo de seu avião a jato, explodiu naquela nuvem rosa de raios sobre a cidade. (Lembra das histórias que o senhor contava pra mim do Jet Boy, o maior aviador de todos os tempos, antes de dormir?) Ele estava tentando nos salvar. E aquela coisa, aquela radiação, esse tal vírus Carta Selvagem transformou as pessoas. Pai, como a gente pode acreditar em Deus, Jesus ou igreja se as pessoas se tornaram deuses? Eles podem ler a mente, são capazes de atravessar paredes, defendem a verdade, a justiça, derrotaram os coreanos. Claro, nem todos. Na verdade a maioria sofreu terríveis transformações, se tornaram monstros assustadores. Talvez seja o preço a pagar pra viver essa época cuja nenhuma mitologia chegou perto de descrever.

Os mais perfeitos e brilhantes são os Ases. Os deformados e horríveis os Curingas. Sei que o senhor não se interessa por essas coisas, acredita que são sinais do Juízo Final.

Mas quer saber o que acho? São tempos incríveis. É Nova Iorque. E é lá que as coisas estão acontecendo.

Dizem que o metrô tá cheio de minotauros, elfos, anões, demônios... toda espécie de criatura bizarra. Não se preocupe comigo papai. Não vou me meter no meio dessa gente. Guardei algum dinheiro e quero trabalhar no meio dos Heróis. Vou procurar alguma coisa na televisão. Eles sempre estão precisando de alguém disposto pra ajudar o cameraman, ou algum auxiliar-faz-tudo. Disso não posso reclamar, pois aprendi muita coisa com o senhor, a gente sempre se virou no negócio da família.

Quando me firmar mando outra carta. Não venha atrás de mim.

Deseje-me sorte. Manda um beijo pra mamãe e pras meninas.


Rick Raul


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