Expressionismo: A Musa de Munch
Alguns anos
atrás fui a São Paulo. Encontrei com meu camarada Luba.
A noite ia
legal, resolvemos visitar um casal amigo dele. A gente fala um bocado
de fotografia, o que temos todos em comum. Eu vivo disso, pago o
aluguel digitalizando o mundo. Daí que surgem umas fotos da última
viagem. Uma visita à um museu de Berlim, capital da Alemanha.
Fizeram fotografias utilizando a técnica pinhole. Cara, achei tudo
uma merda. Fiquei impressionado o quanto eles gastaram dinheiro para
trazer imagens tão ruins. Fiquei chocado.
Só hoje
entendo o que eles queriam expressar.
Aliás, essa
palavra, EXPRESSÃO, tem tudo a ver com o que quero dizer: o
Expressionismo foi o movimento de pintura que nasceu após a
fotografia. Diziam que a máquina fotográfica poderia reproduzir com
maior eficiência e de forma mecânica a realidade, supostamente sem
a intervenção emocional do autor. E os pintores ficaram livres pra
fazer do jeito que quisessem suas telas, colocando cores fortes e
linhas tortas sem compromisso com a realidade. Uma pessoa teria
tantos retratos diferentes quantos fossem os artistas que o
representassem. Porque essa pessoa despertaria diferentes emoções
em cada autor.
Daí entendi
aquelas imagens produzidas a partir de pinholes. Eram fortes e
mágicas porque eram realmente únicas. Produzidas por aquelas mãos
em particular, daquele jeito. Distantes sim da realidade. Em
tempos de google e bancos de imagens gigantescos, quem precisa
de uma imagem perfeitinha, corretinha, insossa e careta vai
encontrar. Exclusividade e criatividade não.
A nova e
inquestionável revolução é a película tornada digital. Temos
essas câmeras de muitos e muitos megapixels. Temos a possibilidade
de avançar a nitidez e exatidão da fotografia para além de
qualquer sonho do melhor laboratorista de revelação fotográfica.
As imagens podem ser capturadas cada vez com menos luz, com menos
ruído, com maior gama de cores e correção cromática. A perfeição
existe.
Mas... você
quer ser perfeito?
Comprei uma
Nikon F100. A última produção analógica da marca. A despedida do
formato 35mm. Saltei quatorze anos de volta no tempo.
E pra quê?
Se precisar
de imagens perfeitas, uso tudo o que há ao meu alcance profissional
técnico e instrumental.
E a verdade
é que, como comentei com o Chico, quero treinar a acuidade, a
perspicácia sobre a luz. Desejo fazer fotos estudando cada
exposição, sem milhões de fotos da mesma coisa. Prefiro relaxar e curtir a viagem. Sem preocupação com
correções, arquivos brutos, backups, envios, compartilhamentos e a
alta qualidade como se cada clique despretensioso da janela do carro
tivesse de ser uma campanha cinematográfica.
Revelar
tudo, ver o que ficou legal. Fazer cópias pros mais chegados. E
saber que o mais importante foi o momento que se viveu ao invés do
momento que se registrou.
Saulo vc tem instagram?
ResponderExcluirSr. Anônimo, costumo publicar coisas no http://www.flickr.com/saulocruz. Sei que é uma rede social meio Old School. Me amarro na organização de albuns e busca por palavras chaves. Agora eles fizeram um leiaute de inundar seu monitor com as fotografias, fica um caleidoscópio bonito. Instagram, pra mim, tem mais a ver com coisas instantâneas, como aquele macarrão com shitaque ou a barriga sarada de academia. :-B
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