terça-feira, 5 de novembro de 2013

F100

Expressionismo: A Musa de Munch

Alguns anos atrás fui a São Paulo. Encontrei com meu camarada Luba.
A noite ia legal, resolvemos visitar um casal amigo dele. A gente fala um bocado de fotografia, o que temos todos em comum. Eu vivo disso, pago o aluguel digitalizando o mundo. Daí que surgem umas fotos da última viagem. Uma visita à um museu de Berlim, capital da Alemanha. Fizeram fotografias utilizando a técnica pinhole. Cara, achei tudo uma merda. Fiquei impressionado o quanto eles gastaram dinheiro para trazer imagens tão ruins. Fiquei chocado.

Só hoje entendo o que eles queriam expressar.

Aliás, essa palavra, EXPRESSÃO, tem tudo a ver com o que quero dizer: o Expressionismo foi o movimento de pintura que nasceu após a fotografia. Diziam que a máquina fotográfica poderia reproduzir com maior eficiência e de forma mecânica a realidade, supostamente sem a intervenção emocional do autor. E os pintores ficaram livres pra fazer do jeito que quisessem suas telas, colocando cores fortes e linhas tortas sem compromisso com a realidade. Uma pessoa teria tantos retratos diferentes quantos fossem os artistas que o representassem. Porque essa pessoa despertaria diferentes emoções em cada autor.

Daí entendi aquelas imagens produzidas a partir de pinholes. Eram fortes e mágicas porque eram realmente únicas. Produzidas por aquelas mãos em particular, daquele jeito. Distantes sim da realidade. Em tempos de google e bancos de imagens gigantescos, quem precisa de uma imagem perfeitinha, corretinha, insossa e careta vai encontrar. Exclusividade e criatividade não.

A nova e inquestionável revolução é a película tornada digital. Temos essas câmeras de muitos e muitos megapixels. Temos a possibilidade de avançar a nitidez e exatidão da fotografia para além de qualquer sonho do melhor laboratorista de revelação fotográfica. As imagens podem ser capturadas cada vez com menos luz, com menos ruído, com maior gama de cores e correção cromática. A perfeição existe.

Mas... você quer ser perfeito?

Comprei uma Nikon F100. A última produção analógica da marca. A despedida do formato 35mm. Saltei quatorze anos de volta no tempo.

E pra quê?

Se precisar de imagens perfeitas, uso tudo o que há ao meu alcance profissional técnico e instrumental.

E a verdade é que, como comentei com o Chico, quero treinar a acuidade, a perspicácia sobre a luz. Desejo fazer fotos estudando cada exposição, sem milhões de fotos da mesma coisa. Prefiro relaxar e curtir a viagem. Sem preocupação com correções, arquivos brutos, backups, envios, compartilhamentos e a alta qualidade como se cada clique despretensioso da janela do carro tivesse de ser uma campanha cinematográfica.

Revelar tudo, ver o que ficou legal. Fazer cópias pros mais chegados. E saber que o mais importante foi o momento que se viveu ao invés do momento que se registrou.

2 comentários:

  1. Sr. Anônimo, costumo publicar coisas no http://www.flickr.com/saulocruz. Sei que é uma rede social meio Old School. Me amarro na organização de albuns e busca por palavras chaves. Agora eles fizeram um leiaute de inundar seu monitor com as fotografias, fica um caleidoscópio bonito. Instagram, pra mim, tem mais a ver com coisas instantâneas, como aquele macarrão com shitaque ou a barriga sarada de academia. :-B

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