segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Leituras do Recesso

Uma viagem começa com a decisão do que levar e, principalmente, o que deixar para trás. Para percorrer os dois mil e duzentos quilômetros até a península de Cabedelo, na Paraíba, além da excelente companhia de Dona Nini, Seu Jesus, Clarinha e minha garota, a Maísa, tive também música e leitura das melhores qualidades.

Nos ouvidos

O disco "Vamo Batê Lata" d'Os Paralamas do Sucesso , de 1995, era inédito pra mim (só conhecia o que tocava na rádio). Com releituras empolgantes dos clássicos (Meu Erro, A Novidade e outras) é energia explosiva ao vivo complementado com finas composições de estúdio (como a belíssima Esta Tarde). Entre uma faixa e outra ouvi também o audiolivro "Tudo o que você precisa saber sobre Umbanda" de Janaína Azevedo. Faço a ponte entre a religião e a música: essas duas obras são a máxima expressão da brasilidade. O Caboclo das Sete Encruzilhadas e versos como "Vamo de tamanco pro cubano/No aperto do abraço do suvaco do pão/Quatro sete sete cinco meia/No batuque samba funk da alegria arrastão" são provas que temos sim uma cultura única, temos sim elementos só nossos.

Livros Concluídos

O divertido "Férias", da Marian Keynes. A garota do interior escocês encantada com as luzes da cidade de Nova Iorque é arrastada pro mundinho fácil das festas, drogas e relações amorosas fast-food. É internada numa clínica de dependentes (alcoolátras, toxicômanos, viciados em jogos de azar, comida, etc) e a história é sobre a convivência com os outros internos e seus dramas, os flashbacks da intensa curtição da naite norte-americana e a relação com sua família (que é um capítulo a parte, pois são cinco irmãs, personagens delicionamente distintas + os conflitos que todos nós temos com nossos pais).

Lacan foi um psicanalista francês, que difundiu o retorno a Freud. Seu pensamento é difícil de entender e suas palavras carregadas de significados exclusivos dentro de sua obra. "Como Ler Lacan", do Slavoj Žižek (adoro esse cara, é tipo um Chacrinha da sociologia) oferece um bom começo pra interpretar o Super Eu, o Outro, Sujeito Suposto Saber e outras coisas lacanianas. Žižek utiliza, por exemplo, a criatura de Alien, o 8º passageiro para explicar a “pulsão de morte” freudiana, em Lacan “A Lamela”, a libido indestrutível, que assume um sem-número de formas, a natureza sublimada em uma “corporificação pesadelar do reino natural”.

Livros Iniciados

No último dia de 2013 tive uma grata surpresa: ganhei de presente, da Dona Nini, o fantástico “Wild Cards 2, Ases nas Alturas”. Já havia terminado fazia algum tempo sua primeira parte, o Wild Cards 1 e, junto do “A História Secreta da Marvel” foram os livros do universo nerd que mais tive gosto de ler em 2013. Como bom fã de Philip K. Dick e Isaac Asimov sempre gostei das histórias sobre robôs, o eterno conflito criador-criatura, tão bem representado em Assim falou Zaratustra, do Nietzsche e imortalizado em Frankenstein, da  Mary Shelley. Em “Wild Cards 2, Ases nas Alturas” estou a acompanhar Modular, um robô humanóide cheio de recursos (super força, voo, semi-invulnerabilidade, invisibilidade, intangibilidade, raciocínio ultra-rápido) que assimila em sua estrutura computadorizada de consciência um programa de sentimentos e razões humanas inserido por seu criador para que pudesse enfrentar melhor “os inimigos da sociedade”. O programa cria uma série de questionamentos e faz com que o andróide queira amar, provar bebidas, tente buscar o significado da existência. Existem outros personagens e tramas, entretanto, essa história do Modular tem me chamado mais a atenção.

Não sei nadar. Somente através do clássico “Vinte Mil Léguas Submarinas”, do visionário Júlio Verne, posso mergulhar e observar os recifes permeados de corais, a vida em todas as suas formas e cores. É um romance cujo cenário é o ecossistema marítimo. Perigosos cachalotes, agressivos tubarões, baleias gigantes, pesca submarina de ostras, tesouros de navios afundados, esses elementos de histórias de piratas e mar estão todos lá. E vai além, é ficção científica, nos apresenta o submarino e o mergulho com unidades individuais de oxigenação, o Aqualung, muito antes do Jacques Cousteau. O que considero fundamental na história é o poder da inventividade humana, resumida nessa frase do personagem narrador, o Professor Aronnax:

"A descoberta da existência do ser mais fabuloso e mais mitológico não teria surpreendido mais a minha inteligência. Que venha do Criador tudo o que é prodigioso, espera-se. Mas encontrar de repente, diante dos nossos olhos, o impossível realizado misteriosamente pelo homem, confunde as ideias. E no entanto, era verdade"

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