segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

DeUsEs bRasiLeiRoS I a IV

I

Foi alí naquele barzinho, o Beirute. Maísa havia levantado para ir ao banheiro. Fiquei a observar a fauna da cidade, um desfile dos coxinhas, undergrounds e patricinhas.   
Percebi uma menina tipo hippie do Lago Sul. Olhava fixo pra mim. Seus olhos eram uma cor indefinida entre o verde e o azul. Brilhavam emoldurados pelo seu rosto bronzeado e seus cabelos negros com pontas douradas. Brinquinho de pena, camisa larga da feirinha da Torre de TV, saia jeans meio desfiada (e curta),  bolsa de couro cru e sandália rasteirinha.
Antes que eu pudesse disfarçar, virar a cabeça, ela se aproximou, puxou uma cadeira e se sentou. Olhou fundo nos meus olhos, soltou uma fumaça de um cigarro que eu não havia tinha visto. E disse, sem rodeios: 

  - Oi, eu sou Exu. 

II

- Você quer dizer que é de Exu, no Maranhão.. Pernambuco, acho. É isso? 
- Sou Exu, das encruzilhadas, Tiriri, Tranca Rua, Veludinho, Arranca Toco, Vira Mundo, Caveira.  
(ué, Exu não era aquele de paletó branco, de cavanhaque?) 
- Esse é o que te falaram que sou. 
 (eita, caraca, lê pensamentos essa maluca)
- Preciso dos seus serviços.
- Que serviços?
- Você não é retratista? Preciso que você fotografe uns deuses em extinção... 

III

O Exu-menina-hippie-do-Lago-Sul puxou sua bolsa. Tirou um charuto, uma vela vermelha e uma garrafinha  tipo souvenir de Ypioca, foi espalhando essas coisas na mesa do Beirute. Sorriu. Parece que encontrou o que procurava. Tirou e abriu a mão perto dos meus olhos.  
- Sabe o que é isso?
- Er... um filme? 35 milímetros, 36 exposições, Agfa ou Fuji?
- Quase. É um filme. E só tem 5 fotos pra bater. Cada chapa é especial, pra cores especiais.
- Nunca ví.
- Exatamente. É pra fotografar coisas que não se vê. 

IV

O filme era mesmo estranho. Não tinha marca definida, indicação de ASA/ISO/DIN ou algum "Made in China". 
- Fique com ele. Nós voltaremos a nos falar. Não quero arranjar confusão com Maísa.
(como ela sabia?)
 - Apanhou as coisas da mesa, enfiou na bolsa, tomou de uma talagada só sua cerveja. "Essa é por minha conta", piscou, mandou um beijo e foi embora. Três segundos depois Maísa apareceu. 
- QUEM É AQUELA MULHER?
- Xii ... 

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