terça-feira, 4 de março de 2014

Robocop & Filosofia



Cinema Goiano

Domingo passado tive uma boa surpresa em Formosa, Goiás. Cidadezinha do interior, 80km de Brasília. Eles tem um cinema. E é excelente. O som vem de todos os lados, cadeiras confortáveis, mega tela. Só um probleminha: não exibem filmes legendados. Admito que, ouvindo aquelas vozes da sessão da tarde, esperei algum "hey, vamos chamar os TIRAS!" ou "pessoal, temos companhia..."

Robocop, um filme de filosofia.

Eu e Maísa assistimos ao Robocop, do Padilha (diretor brasileiro, famoso pelo Tropa de Elite). É uma película que ultrapassou todas as minhas expectativas. Dentre as perguntas levantadas nessa ficção científica a que proponho discutir aqui é sobre quem somos nós, do ponto de vista material e/ou imaterial.

A cena que me despertou pra essa questão foi quando o policial Alex Murphy acordou após sua “reconstrução” e o cientista responsável pelo projeto do Robocop mostrou a ele sua condição: um cérebro exposto em uma cabeça com uma traqueia ligada a um sistema respiratório. E tem uma mãozinha lá embaixo, onde seria o braço. Soa como uma piada do tipo "salvamos o que deu".

Talvez todos os homens que tenham se colocado no lugar de Alex Murphy fizeram a mesma pergunta: "CADÊ MEU PINTO?"

(Ou fariam outra pergunta: "E agora, o que será de mim?")

QUEM SOMOS NÓS?

Vou dividir o mundo em dois tipos de pessoas:

1 - As que acreditam que somos o corpo que habitamos. E, quando esse corpo morre, é o fim definitivo.

2 - As que acreditam que somos uma consciência extra corpo ou alma. E, quando esse corpo morre, é um fim temporário (até arranjar outro corpo ou ficar circulando poraí ou voltar ao plano das consciências extra-corpos)

As pessoas do tipo (1) estariam numa enrascada séria. Pq se somos nossos corpos cada pedacinho é importante para nós. Somos o que temos (barriga tanquinho, ombros largos, cabelos ruivos, etc) e o que parecemos (atleta, atraente, diferente, etc). Se sou exatamente meu corpo, sou "menos eu" se perder um dedo, ou, terrível, posso perder 40% de mim se tiver de amputar as pernas. Começo a deixar de ser eu a medida que meu cabelo cai, engordo, passo a envelhecer. Tal como mulheres que se sentem menos mulheres devido a procedimentos de retirada de mama por conta de risco de vida. O "eu" entra em decadência, não sou mais o que fui um dia. Vou deixando de ser eu lentamente até parar de existir com a morte do corpo que sou.

Por outro lado, pessoas do tipo (2) teriam maior clareza em lidar com o fato de terem poucos pedaços de sua constituição física anterior devido a consciência de que estão além de uma estrutura carnal. Será que as memórias, aprendizados, nossa opinião e o que achamos que é nossa personalidade são só interações elétricas entre os neurônios? Renascer num novo corpo seria uma oportunidade para as pessoas tipo (2). Pq nossos valores, aspirações, o “eu” intacto e completo estão presentes numa nova concepção de existência.

Ser ou Não Ser

De certa forma a gente já vive algo parecido ao tipo (2). Fica mais fácil de entender o Facebook: você interage com uma porção de logaritmos travestidos de pixels que acha que são outras pessoas. Por exemplo, você fala (escreve) comigo mas não lhe ouço (leio). Vê uma carinha sorrindo e pensa que sou eu sorrindo. Ou um “kkkkk” e imagina que estou gargalhando. É uma emulação de quem eu sou, o verdadeiro Saulo que está longe dalí, alma ou extra corpo, já que o Facebook é como se fosse o corpo material. É real.


Torço pra que o Murphy seja o tipo (2) com força. Deve ser difícil pro cara acordar e ver que tá sem seu pinto …

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