Cinema Goiano
Domingo passado tive
uma boa surpresa em Formosa, Goiás. Cidadezinha do interior, 80km de
Brasília. Eles tem um cinema. E é excelente. O som vem de todos os
lados, cadeiras confortáveis, mega tela. Só um probleminha: não
exibem filmes legendados. Admito que, ouvindo aquelas vozes da sessão
da tarde, esperei algum "hey, vamos chamar os TIRAS!" ou
"pessoal, temos companhia..."
Robocop, um filme de
filosofia.
Eu e Maísa assistimos
ao Robocop, do Padilha (diretor brasileiro, famoso pelo Tropa de
Elite). É uma película que ultrapassou todas as minhas
expectativas. Dentre as perguntas levantadas nessa ficção
científica a que proponho discutir aqui é sobre quem somos nós,
do ponto de vista material e/ou imaterial.
A cena que me despertou
pra essa questão foi quando o policial Alex Murphy acordou após
sua “reconstrução” e o cientista responsável pelo projeto do
Robocop mostrou a ele sua condição: um cérebro exposto em uma
cabeça com uma traqueia ligada a um sistema respiratório. E tem uma
mãozinha lá embaixo, onde seria o braço. Soa como uma piada do
tipo "salvamos o que deu".
Talvez todos os homens
que tenham se colocado no lugar de Alex Murphy fizeram a mesma
pergunta: "CADÊ MEU PINTO?"
(Ou fariam outra
pergunta: "E agora, o que será de mim?")
QUEM SOMOS NÓS?
Vou dividir o mundo em
dois tipos de pessoas:
1 - As que acreditam
que somos o corpo que habitamos. E, quando esse corpo morre, é o fim
definitivo.
2 - As que acreditam
que somos uma consciência extra corpo ou alma. E, quando esse corpo
morre, é um fim temporário (até arranjar outro corpo ou ficar
circulando poraí ou voltar ao plano das consciências extra-corpos)
As pessoas do tipo (1)
estariam numa enrascada séria. Pq se somos nossos corpos cada
pedacinho é importante para nós. Somos o que temos (barriga
tanquinho, ombros largos, cabelos ruivos, etc) e o que parecemos
(atleta, atraente, diferente, etc). Se sou exatamente meu corpo, sou
"menos eu" se perder um dedo, ou, terrível, posso perder
40% de mim se tiver de amputar as pernas. Começo a deixar de ser eu
a medida que meu cabelo cai, engordo, passo a envelhecer. Tal como
mulheres que se sentem menos mulheres devido a procedimentos de
retirada de mama por conta de risco de vida. O "eu" entra
em decadência, não sou mais o que fui um dia. Vou deixando de ser
eu lentamente até parar de existir com a morte do corpo que sou.
Por outro lado, pessoas
do tipo (2) teriam maior clareza em lidar com o fato de terem poucos
pedaços de sua constituição física anterior devido a consciência
de que estão além de uma estrutura carnal. Será que as memórias,
aprendizados, nossa opinião e o que achamos que é nossa
personalidade são só interações elétricas entre os neurônios?
Renascer num novo corpo seria uma oportunidade para as pessoas tipo
(2). Pq nossos valores, aspirações, o “eu” intacto e completo
estão presentes numa nova concepção de existência.
Ser ou Não Ser
De certa forma a gente
já vive algo parecido ao tipo (2). Fica mais fácil de entender o
Facebook: você interage com uma porção de logaritmos travestidos
de pixels que acha que são outras pessoas. Por exemplo, você fala
(escreve) comigo mas não lhe ouço (leio). Vê uma carinha sorrindo
e pensa que sou eu sorrindo. Ou um “kkkkk” e imagina que estou
gargalhando. É uma emulação de quem eu sou, o verdadeiro Saulo que
está longe dalí, alma ou extra corpo, já que o Facebook é como se
fosse o corpo material. É real.
Torço pra que o Murphy
seja o tipo (2) com força. Deve ser difícil pro cara acordar e ver
que tá sem seu pinto …
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