O
fotógrafo de 70 anos é ateu. Da melhor postura niilista: se nada
existe, vamos fazer alguma coisa. Nem sempre foi assim. Antes era o
mundo cão traduzido em belíssimas imagens de milhares de gradações
entre o preto e o branco. O ensaio sobre Serra Pelada foi uma (senão
a primeira) das expressões fotográficas autorais que tive contato.
Você pode não gostar da estética ou do tema. Mas aquelas fotos
jamais passam despercebidas.
Sebastião
Salgado esteve ontem no CCBB de Brasília. Trouxe luz e esperança
para uma plateia composta, em sua maioria, de estudantes, estudantes
de fotografia, fotógrafos e fotógrafos estudantes.
Ele foge
da postura de herói ou messias da verdade. Além de afirmar, a todo
momento, que "minhas fotografias sozinhas são nada" e sua
esposa (parceira de vida e de labuta), equipe (laboratoristas,
assistentes, produtores, etc) e o conglomerado de instituições
públicas, privadas e comunidades (indígenas ou não) é que são
importantes. Essa união, cuja amarração é sua nova exposição,
Gênesis, é que é o objetivo final.
E não é
da boca pra fora. Através de seu Instituto Terra, restaurou a Mata
Atlântica no Vale do Rio Doce. Contou que a cicatrização da terra
leva ao surgimento espontâneo de água, fauna e flora. Que espécies,
supostamente extintas, ressurgiram na floresta refeita. Seria mágico
se não fosse verdade.
"A
Natureza nos transformou em ecologistas". Da prática a teoria,
da experiência ao atestado da capacidade que temos de salvar o
planeta. Que é possível sim dar marcha a ré na fim do mundo. E que
tem que ser rápido. Porque daqui a pouco serão os extraterrestres
que divulgarão poraí o mais novo animal desaparecido do universo: o
ser humano.
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