terça-feira, 28 de outubro de 2014

A Dificuldade de Dizer Eu Te Amo

Os japoneses tem uma palavra pra descrever os desenhos das sombras e luzes que são formadas pelo sol no chão, através das folhas das árvores: komorebi.

Se você almoçou e jantou com os espanhóis e depois começaram a conversar, a esse momento se dá o nome de sobremesa (não, não é a hora de comer doces!)

Nós, que herdamos esse idioma complexo e maravilhoso, o português, também temos algumas palavras só nossas. Tipo saudade: a falta de alguém que está longe.

Talvez seja uma dificuldade universal definir o sentido da palavra amor. E dizer "eu te amo". Pq não vale pra todo mundo e toda situação. Ou vale?

Amor é gostar, aprovar, querer estar junto, querer ajudar. Sem querer nada em troca.

(Ou querer algo em troca sim: ser amado no mesmo nível, receber cafuné, ganhar uma almoço, viajar junto, contar problemas, buscar compreensão, transar loucamente, etc etc etc. será?)

O enigma do amor se dá pq ele não é algo palpável. O mercado/cartão de crédito/capitalismo diz que não. Seria possível sim provar nosso amor através das coisas que conseguimos comprar pra nosso alvo de amor: joias caras, presentes luxuosos, mil prestações a cumprir para provar que o que sentimos encontra páreo na realidade existente, da matéria das coisas.

Nosso amor seria do tamanho de um cruzeiro marítimo ou de um anel de diamantes, então? Acredito que nenhum dos dois. O amor não existe e não pode ser medido ou pesado desse jeito. O amor é uma abstração magicamente relativa.

(e esse é justamente o mote de "O Mundo Não é o Bastante", 19º filme do James Bond, 007)

O quanto cada pessoa é capaz de amar? O quanto cada pessoa é capaz de receber amor? Será que conseguimos retribuir todo o amor que recebemos?

Como saber que amamos?

Você tira a pele, abre a caixa torácica. E vê o coração. Lá dentro estão as esperanças, os sonhos e os medos. Acredito que é aí que o amor está (não é o pé da letra, viu, Sr. Jack?). E talvez seja por essas coisas - conceitos, imagens de sí e do mundo, ideias e, em um sentido mais profundo de metafísica ou romantismo, a ALMA - que nos atraímos.

Existem diversas formas de amar e que também acrescentam dificuldades em dizer "eu te amo".

Eu queria dizer "eu te amo" pros meus amigos, pras pessoas que me rodeiam, por exemplo. Mas não dá. A conotação do amor é sempre da união sexual. E, mesmo nesse aspecto é bastante confuso. A gente não sabe qual a "modalidade" de amor queremos. É muito complicado:

Tem o amor que você quer, o amor que você acha que quer, o amor que você acha que quer mas não quer mais quando enfim consegue. Existe o amor que é seu contanto que você seja obediente, o amor que se preocupa por não ser o bastante, amor que tem medo de ser descoberto, o amor que teme ser julgado e descobrir-se insuficiente. Há o amor que é quase - mas não é - forte o bastante, o amor que faz você sentir que eles são melhores que você. O amor que só é bom por causa da pessoa que você é enquanto está com ele. O amor pelos animais, o amor pela natureza, o amor pelas bandeiras. O amor de mãe (aí é assunto pra uma enciclopédia inteira. Não vamos entrar nessa definição...)



É. Realmente é difícil dizer "eu te amo". 

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