segunda-feira, 13 de outubro de 2014

As Valkírias, de Paulo Coelho

Paulo Coelho é um autor muito esperto. A gente lê seus livros e não sabe onde começa o mito e termina a verdade. 

Será que ele é capaz de fazer chover ou ventar com a força do pensamento? 
Será que a tradição mundial secreta dos bruxos, a Ordem Ragnus Agnus Mundi - RAM, existe? 

Lí sua biografia (O Mago, de Fernando Morais) e muita coisa passou a fazer mais sentido em sua obra. Lá está que realmente aconteceu uma viajem ao deserto Mojave, nos Estados Unidos da América, junto de sua então esposa, Chris. 

Agora, se durante essa jornada, apareceram  mulheres vestidas de motociclistas a montar cavalos(?!) e que se comunicam com anjos... não sei. E aí é que está o charme da narrativa. 

(O Harry Potter a gente sabe que é ficção - sem muita originalidade, por sinal, já que as criaturas e situações são chupadas DEMAIS dos quadrinhos Mundos da Magia (de Neil Gaiman ) + o universo mitológico do J.R.R. Tolkien. Tudo bem tomar elementos de outras mitologias pra remendar uma ausência de criatividade. O excesso é que soa como plágio. Enfim) 

O livro "As Valkírias" é sobre a busca do contato com as entidades cristãs de proteção, os anjos. São apresentados os desafios para que esse encontro possa ser concretizado: superação da sobrevivência no deserto e enfrentamento dos demônios íntimos de cada personagem. 

A forma da escrita reflete a simplicidade das receitas sugeridas para uma existência em que seja encarado o desafio da lenda pessoal (tema recorrente na "literatura paulocoelhana"): não é prolixo, nem hermético ou pedante. Simples como costumam ser nossas escolhas, que vão da indiferença preguiçosa ao trabalho apaixonado.  

Há quem diga que é auto-ajuda, com suas receitas simples para a felicidade. Simples mas não são fáceis. 

Por exemplo: uma das provas para encontrar os anjos era que se renunciasse ao "acordo de não vencer quando é possível a vitória". A líder das Valkírias dá seu depoimento: 

"Um dia, quando eu era adolescente vi minha melhor amiga chorando. Saíamos juntas sempre, tínhamos um imenso amor uma pela outra, e perguntei o que se passava. Depois de muito insistir, ela terminou me contando que seu namorado estava apaixonado por mim. Eu não sabia, mas naquele dia fiz o acordo. Sem compreender direito por que, comecei a engordar, a cuidar mal de meu corpo, a ficar feia. Porque - incoscientemente - achava que minha beleza era uma maldição, fez sofrer minha melhor amiga. Em pouco tempo passei a destruir o sentido de minha vida, porque já não ligava para mim mesma. Até que chegou o momento em que tudo à minha volta tornou-se insuportável, pensei em morrer. Como vê, rompi o acordo".  

Pô, quantos de nós temos "a faca e o queijo nas mãos", porém, por conta de alguma coisa mal resolvida em nossas cabeças acabamos por nos sabotar o progresso, eternamente a barrar o potencial que dispomos, a frear nossas vitórias? 
Há muitas formas de fugir de nossas questões mais profundas, seja através de um consumo desenfreado, boemia auto-destrutiva ou vícios das mais variadas formas. Se a gente não se encara e não tem coragem pra resolver nossos dilemas internos nos tornamos infelizes. Sempre à espera do milagre que nos libertará, a força externa redentora que nos "consertará" e que nos trará paz e felicidade. E tudo é uma questão de mergulhar dentro de nós mesmos.

E há também quem diga que é magia pura (esqueça as encruzilhadas, vassouras voadoras ou quaisquer caricaturas de processos etéreos de manifestação terrena. Magia é comunicação, sugestão, auto-conhecimento e conexão com o próximo e/ou a natureza). 

Acredito, de forma sincera, nas duas alternativas.

Esse é o quarto livro do Paulo Coelho que lí. Gostei do Diário de Um Mago e d'O Alquimista. O Monte Cinco não é muito bom, é uma puta enrolação. Já as 94 páginas d'As Valkíras valem a pena!

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