quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Sol. Mar. Praia. Família. E livrinhos – Recesso 2014/2015

Sempre considerei um livro uma meta a ser superada. Desde quando era criança e frequentava uma biblioteca lá na Ilha do Governador - era Cacuia ou Cocotá? Não lembro mais... - tinha como objetivo terminar toda obra que estivesse em minhas mãos.

Hoje já penso diferente: "pra que vou até o fim se o começo já é uma porcaria?"
Parece bobo mas pra mim foi revolucionário poder largar o texto a qualquer momento. São tantas opções e tanta gente boa escrevendo que realmente não vale a pena insistir em coisas ruins.

Tive essa constatação quando lí as 155 páginas de "Demoníaco", de Pandora Fairel. Como entidades antediluvianas podem ser inseguras e desorientadas como adolescentes? Porque a filha de dois dos mais poderosos demônios do inferno rejeita os pais e se torna protetora da raça humana boazinha e altaneira? Fiquei esperando a grande explicação. Talvez uma pequena pista do insight (por que lutar pelo bem se suas raízes são do mal?). E nada. Personagens rasos.

Zumbis X Unicórnios, de vários autores, ficou por menos da metade. Li apenas um ou dois contos pra nossa sobrinha, a Clarinha. Se a maior preocupação dos protagonistas é popularidade ou lutar contra o "inóspito ambiente escolar" sinto preguiça de seguir adiante com a trama.

Pelo título eu jamais leria "A Longa Marcha dos Grilos Canibais", do Fernando Reinach. Dei uma chance e achei incrível!! Não concluí ainda. São casos da ciência reescritos de forma traduzida e atrativa. Pra além de relatórios técnicos exaustivos de revistas científicas. Por exemplo: vc sabia que a morte surgiu muito depois que a vida? A morte se dá por conta da reprodução sexuada. Porque para o ser que se divide em dois, depois em quatro, em oito, em dezesseis (e poraí vai) a morte não existe. E assim foi, durante milhares de anos, na aurora do planeta Terra. Todos os assuntos do livro são permeados dessas ideias fantásticas!!

E falando em Terra, vale muito a pena o livro autobiográfico do Sebastião Salgado. Em depoimento a Isabelle Francq o fotógrafo nos conta seu trajeto particular, seus causos, sua militância por um mundo melhor. É realmente uma grande pessoa, que veio ao mundo pra fazer a diferença. Talvez por ser fã meu julgamento já esteja comprometido."Nunca me senti superior a esses homens supostamente 'primitivos'. Foi por isso que nunca tive a sensação de ser um estrangeiro indo visitá-los. Pelo contrário, descobri meus iguais e, para falar a verdade, eles me ensinaram mais do que eu a eles." Admiro muito o fotógrafo e a pessoa Sebastião Salgado.

Provavelmente por ser uma leitura paralela ao "Da Minha terra à Terra", do Salgado, achei insossas as opiniões manifestadas no "Não Conta Lá em Casa", do André Fran. Tudo bem, ele e seus amigos foram muito corajosos de viajar pros países mais complicados do planeta. E quem sou eu, sentado na minha confortável poltrona, para tirar qualquer mérito desse projeto audacioso. É, inclusive, um programa no Multishow (cujos episódios não tive oportunidade de assistir). Leitura leve. Transparecem os valores classe média alta de uma juventude carioca hedonista cujas maiores preocupações são achar cerveja e sinal wi-fi em todos os países que visitam. "A diferença está nos detalhes. Em vez de fotos com constrangidos sujeitos travestidos de personagens de desenho animado, você pode posar montado em um camelo vivinho e enfeitado para a ocasião. Em vez de camisas temáticas, você pode comprar uma autêntica burca. E o cachorro-quente, a pipoca e os sorvetes são naturalmente substituídos por litros e litros de água fresca" - no capítulo sobre o Irã. É legalzim.

And the Oscar goes to... "Castelo de Vidro", de Jeannete Walls. Uma história de enfrentamento da vida, de seguir em frente, de família maluca (como todas são). Nu e cru o ditado do Nietzsche "o que não lhe mata deixa mais forte". Superação sem pieguices. Uma relato real de uma existência com tudo pra dar errado. A cada página virada só pensava no pior que poderia acontecer. Mas a esperança e o instinto de sobrevivência estão lá. "Papai parecia determinado a se destruir, e eu tinha medo de que levasse todos nós com ele". Grande história.


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