domingo, 18 de janeiro de 2015

Youtube no Telemóvel

Em meu primeiro contato com o computador tive a impressão que aquela máquina parecia o Deus do Velho Testamento: ele ditava uma porção de regras e não tinha nenhuma clemência. Não faz muito tempo. As telas eram basicamente televisores pesados e os teclados monstruosidades cujos comandos eram combinações herméticas como rituais de magia. Haviam os "xamãs da computação", como era o caso do meu brilhante amigo Marco Aurélio. Ele era nosso mestre pq conhecia os signos complexos de uma língua mais antiga que o pacote Windows que estávamos assimilando: programação COBOL. Marcão era um gênio e eu apenas mais um dos deslumbrados com a inclusão digital.

Acompanhávamos com grande entusiasmo as novas atualizações da companhia do Bill Gates, flertávamos com Linux (por ser underground, libertário, a antítese da computação capitalista). Acreditava que o final dessa evolução, após tantas transformações em pouquíssimo tempo, era o computador portátil, o laptop. Uma maleta que se transformava numa máquina de escrever com uma tela fina. Em que se poderia trabalhar em qualquer lugar, levar consigo seus softwares, suas músicas, tudo. O ápice da informática.

O negócio não parou poraí. Os telefones celulares foram ficando cada vez mais populares a medida que ganhavam mais transístores e o acesso à internet melhorava. São os smartphones ou "telefones inteligentes".

Pois foi mexendo hoje de manhã no meu telemóvel (que não é o melhor, muito menos iPhone) que descobri que o Youtube é + um aplicativo pré-instalado em seu sistema operacional. Ao logar com minha conta do Grande Irmão Google ele me apresentou, em forma de playlist, todos os videoclipes que curti ao longo de toda minha vida on-line. Fantástico. Coloquei em modo aleatório e apertei o play.

Olha o que rolou:

"Say That" do Toro Y Moi. Comecei a ouvir esse maluquinho pq ele se parece DE MA IS com o Megarom, um amigo que, por mais uma coincidência, tb é artista da música. Acabei gostando dos trabalhos dele e acompanho.

"Her Ghost in The Fog, Live" do Cradle of Filth. A gente levava várias madrugadas pra baixar as coisas no tempo da internet discada. "Her Ghost in The Fog", o clipe original, foi proibido na maioria das MTVs do mundo. Heavy Metal supostamente satânico com pitadas de gótico. E é claro que a gente queria saber do que se tratava!!

"Fricote" do Art Popular. "Você é meu amor/Te quero de novo/Te ensino a fricotar/Fricote do fofo/Eu vou te lambuzar/De água-de-coco/Bumbum pa ti cumbum/Fricote do fofo". Como que quem nunca foi a show algum, não comprou o disco, não ouviu em casa e, mesmo assim, sabe a letra?

RÁ! Entre um clipe e outro, uma propaganda de Curso de Hebraico. Como eles podem saber que essas coisas podem me interessar? A coisa mais bacana do mundo on-line é justamente o maior perigo: algoritmos espiões sobre tudo o que você escreve, lê e compartilha. Pra gerar a navegação mais individualizada possível. E também para criar um perfil de quem talvez você não seja (por exemplo: se eu passo horas lendo textos sobre islamismo não quer dizer que eu seja muçulmano. Ou que queira explodir alguma coisa - são conclusões precipitadas que não tem a ver com a religião que é bela como todas são. Mas os algoritmos, o FBI ou a ABIN tiram suas próprias conclusões...)

Segue a lista:

Solo Concert Tokyo 1984 - Keith Jarrett. Cara, esse cara faz umas caras muito engraçadas quando está tocando sua belíssima melodia no piano. Faz as caras que a gente faz quando tá transando. Ou seja, só se pode imaginar que a música pra ele é um ato de amor. É profundo, é dinâmico, é sentimento e são encantadas composições. Respeito e admiro.

"Give It Away" do Red Hot Chili Peppers. Esse foi o primeiro videoclipe que ví na MTV brasileira, recém inaugurada, sinal aberto em UHF lá no Rio de Janeiro. Um tapa na cara: aqueles caras super enérgicos, pintados de prata, dançando vestidos de entidades(?) em um deserto de solidão e calor. Letra anarquista, com versos tão truncados quanto é nossa (in)capacidade de interpretar arte inédita. Morávamos no Complexo do Alemão e quando tocava na TV largávamos o que que fosse que estivéssemos fazendo pra ver mais uma vez o clip daqueles doidos. O máximo de interatividade era o programa do Cazé, o Teleguiado MTV. Não tínhamos telefone então o que podíamos fazer era torcer pra que alguém pedisse "Give It Away". E hoje é diferente. Hoje a gente tem acesso a qualquer conteúdo. Na mão com um ou dois cliques. :-)

Deveria falar alguma coisa sobre os Tablets. Foram um salto maravilhoso também. Mas eles merecem um texto a parte.

:-)

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