Não
tenho televisão em casa. Embora acredite em magia & hipnotismo o
que mais me assusta é a publicidade. E a tevê é uma porta para os
condicionamentos mentais que as campanhas publicitárias nos induzem.
Tudo muito gentil e sugestivo. São plantadas em nossas mentes
sementes de insatisfatoriedade: não temos o que queremos. E
se temos, tememos o dia em que podemos perder. Antes dessa
descoberta/teoria da conspiração eu AMAVA com a força de todos
meus poros o televisor. Ficava acordado até muito tarde pra assistir
as estreias na TV aberta através da Tela Quente, sempre às segundas
na Globo. Dormia antes de chegar ao final e, tempos depois, quando a
continuação já era exibida nos cinemas era a vez da Sessão da
Tarde reapresentar a película. Matava aula com qualquer desculpa
para ver de dia o filme cortado e formatado pra caber na grade
horária de forma que não interferisse no horário da próxima
atração (uma minissérie importada ou hoje a eterna novelinha teen,
celeiro de novos talentos do PROJAC, a sempre carioca Malhação).
Apesar
disso, de vez em quando mergulho na televisão, tipo quando estou na
casa de alguém. Na tarde de sábado foi impossível emergir da
realidade (?) traduzida pelos diodos
emissores de luz – ou LED. Fiquei preso ao sofá. Os
safados do canal FX exibiram duas pérolas dos anos dourados de minha
infância dos anos 80: Batman e Conan, o Destruidor.
O
Batman do Tim Burton:
o homem morcego de borracha contra o colorido Coringa, um “artista
do crime”. Parece o velho seriado dos anos 60 com ares góticos
acrescentados pelo diretor. Michael
Keaton , o
cara engraçado que fez o
Beetlejuice
(d'Os Fantasmas se Divertem) assumiu Bruce
Wayne... Rá! Ainda bem que não
existiam redes sociais na época. Jack
Nicholson, pelo contrário, está em
casa: o Coringa é mais uma carta em seu baralho de loucos (Um
Estranho no Ninho, O Iluminado, Melhor é Impossível, etc). O
rostinho da época, Kim Basinger
atua como Vick Vale, a fotógrafa (o
glamour dessa profissão empresta ainda mais charme à personagem).
A trilha sonora do Prince
dá uns toques de futuro do pretérito, com seu rap, guitarras e
sintetizadores. Tudo se encaixa.
Conan,
o Destruidor, um filme de macho: personagens rigidamente
arquetípicos, cada um no seu quadrado, sem quaisquer nuances
psicológicas ou tridimensionalidade. Cartoons em preto e
branco. Tem o Bárbaro (forte, estúpido e prático), o Ladrão
(medroso, fraco e cleptomaníaco), o Bruxo (místico, letrado e
curandeiro), a Guerreira (determinada, agressiva e honrada), o
Guarda-costas (protetor, fiel e preocupado) e a Virgem (inocente,
intuitiva e bonita). O Mago do Mal cujos feitiços são o reflexo de
sua personalidade: produzir um monstro simiesco escondido nos
espelhos do ego (sua derrota é justamente a quebra de suas imagens
refletidas).
Se
há alguém que ofusca a interpretação (?) da montanha de músculos
Arnold
Schwarzenegger
é Grace Jones que, com caras &
bocas & urros & gritos transmite mais que mil palavras.
No
final todos que acompanharam a Princesa Virgem recebem convites para
integrar, em altos postos, o reino da agora Rainha Virgem (rá! Até
o ladrão ganhou uma boquinha: se tornou o Bobo da Corte). Só
pra contrariar, Conan recusa a oferta de desposar a Rainha. Vai
embora do salão e termina o filme na imagem clássica da névoa
vermelha com o bárbaro entronizado. Com a promessa que sim, ele
ainda virá a se tornar rei. Grande filme.
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